Hoje é o “dia das crianças” e quem ganhou um belo presente fui eu, quando a Tati me abordou na escola e me convidou para escrever sobre a importância do brincar na primeira infância para o blog que participa. Além da delícia do convite que acabara de receber, fiz uma saudosa viagem ao modo com o qual cresci como a criança que fui, e que acreditem, continua em algum lugar do meu coração. Lembrei-me rapidamente do cheiro do mato e da textura do barro quando inventava fazer comidinhas, lembrei-me das bonecas de pano, dos banhos de chuva, dos surfes nas ondas do Ribeirão da Ilha nos dias de vento sul com os primos, da parede do quintal que meus pais permitiram que fosse a minha parede de artes e afins, onde a tinta e muitas invenções aconteciam, das parecerias dos amigos da rua quando pegávamos todas as almofadas e fazíamos uma brincadeira que chamávamos de “o caminho do trem fantasma”, das cabanas que criávamos para colocar em ativa o nosso “clubinho”. Recordo-me inclusive da senha que usávamos para ingressar no mesmo, segredo este que, infelizmente, por mil motivos não posso revelar a vocês. Lembro-me principalmente do sorriso aberto e tranqüilo da minha mãe ao me observar brincando e inventando moda enquanto os dias passavam e eu crescia. Ela era uma mulher pontual nos combinados comigo, mas me permitia inventar, criar, sentir, vivenciar... Penso que ela era um belo exemplo para a pedagogia predominante de mais de trinta anos sem nunca ter feito esta graduação, onde a grande maioria dos meus amigos ficavam submetidos a responder apenas quando questionados, escrever apenas quando solicitados, reproduzir apenas o que os outros pensavam, como se estas fossem escolhas inerentes do ser humano. Então, dá para imaginar: quando a “ovelha negra” aqui se juntava para brincar com os outros pequenos, na certa novidades e farras aconteceriam! Talvez este tenha sido um dos motivos pelo qual eu era pouco convidada para brincar na casa de minhas amigas. Mas em compensação, todos meus amigos de infância se convidavam para brincar e dormir na minha casa, onde o portão servia de rede de vôlei quando viramos adolescentes.
Nesse período conheci o Ata, meu marido e pai dos meus dois filhos. Coincidentemente quando nos vimos pela primeira vez, estávamos brincando: ele jogava vôlei com alguns amigos e eu acabava de voltar de uma boa partida de taco. Uma das coisas que mais gostamos um no outro foi o modo com o qual havíamos sido crianças. Ata cresceu no interior do Estado de SC, em que os afazeres da fazendo misturavam-se em um milhão de brincadeiras. Recordo-me de que um ano depois do nosso namoro iniciar, fui conhecer o lugar em que ele havia vivido suas experiências de infância.
É fato que durante a visita meu olhar já estava modificado, pois já cursava as primeiras fases do curso de Pedagogia. Assim, ao descer do carro depois de observar muitos hectares de terra, meus olhos brilhavam ao sentir os disparos do meu coração! Quanto espaço, quantas árvores frutíferas, quanta lama meu Deus!!!! Quanta coisa boa! Banho de rio gelado, histórias contadas na roda, comida da horta plantada por ele! Parecia surreal, mesmo para mim que havia experimentado tantas possibilidades enquanto criança.
Pela primeira vez tive a certeza sobre as dúvidas que sentia sempre que o via resolvendo tudo tão facilmente! Sempre cheio de mil idéias, o Ata não se apurava e nem se apertava em situação alguma. Tudo era resolvido com uma boa dose de humor! A frase: “O Ata é assim porque brincou quando criança” virou carro chefe aqui em casa. E é assim até hoje!
Quando os filhos nasceram e chegaram na idade em que viver a experiência do brincar com outras crianças nos parecia ser fundamental, conhecemos todas as escolas alternativas de Floripa, pois morávamos num “apertamento” e buscávamos espaço e terra para eles. Naquele período eu ainda era estudante das últimas duas fases de pedagogia e Ata havia iniciado o curso de Direito. Quando estávamos com as crianças em casa, lembro-me de inventarmos brincadeiras com brinquedos não estruturados para que a Julia e o Vitor descobrissem nas coisas mais simples a possibilidade de criar, se encantar e imaginar, aspectos esses que não deveriam ser um direito na infância e sim um dever no processo do crescimento de todas as crianças. Tocando no mundo, explorando os desejos, o ser curioso, imitando os adultos nos papéis da brincadeira, as crianças passam a compreender como funciona o mundo real e para que ele serve, além daquilo que o olhar e a idéia da criança permitem que possa ser reinventado e melhorado por ela. Desse modo, pelo menos aqui em casa, alguns lençóis viravam pano de fundo para o cenário de uma “peça” que as crianças inventavam apresentar, ou uma caverna de monstro quando insistentemente o Ata escolhia brincar assim com o Vitor, a capa de um super herói com grampo de roupa no pescoço ou até mesmo uma rede para brincar de deitar e ser embalado enquanto segurávamos as pontas e levantávamos as crianças até meia altura.
Para brincar é fundamental que o adulto a princípio, esteja ao lado da criança como o parceiro que vai ajudá-la a organizar os espaços, os materiais e tudo mais que precisar para que a brincadeira e um mundo de mil ideias possam ser colocadas em prática. Como as crianças não nascem sabendo brincar e precisam do outro para descobrir como funciona esse processo, consideramos a brincadeira como algo socialmente aprendido. Com o processo de crescimento em andamento é possível observar que a interação das crianças ao brincar vai ganhando outras complexidades e muita autonomia, o que nos leva a observar bem mais do que intervir e dar idéias.
Se “Einstein teve tempo para brincar”, livro que estou lendo e que indico para pais e educadores, por que nossos filhos não teriam?
Brincando eles serão mais felizes, mais bem resolvidos, mais autônomos, mais tranqüilos, mais seguros, mais criativos, mais generosos, mais inventivos, mais encantados e encantadores, mais, muito mais mesmo, as crianças felizes e comprometidas que devem ser!
Feliz dia das crianças!!!
E parabéns a todos os pais que as permitem viver a infância!!!
Um beijinho,
Fabricia
Fabrícia d’Avila Exterkoetter, mais conhecida por Fá, é uma verdadeira apaixonada pelas relações que se estabelecem entre as pessoas e pelo desenvolvimento infantil. Concluiu seus estudos em Pedagogia, na Universidade Federal de Santa Catarina, em Agosto de 2000. Desde lá não parou mais. Fez estágios na sua área e trabalhou como educadora da Infância com todas as faixas etárias que compreendem esse período. Atualmente é diretora pedagógica da Escola da Oca e coordena um trabalho com 28 educadores (professores, estagiários e apoio da Equipe Pedagógica), além de realizar formações pedagógicas com profissionais da área da Educação Infantil a respeito de “Projetos de Trabalhos” para a Infância. Fá também desenvolve outro grande papel: é mãe do aventureiro Vítor e da linda Júlia.
Fá querida, muito obrigada por aceitar o convite! Parabéns pela família linda que tanto admiro!
Post originalmente publicado no dia 12/10/10 em outro blog que escrevia.
Beijos, beijos
Um comentário:
Como colocar a foto do meu filho com a camisa de vcs???
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